Sistema de crédito social na República Popular da China - O controlo total

Há mais de 70 anos atrás, em "Nineteen Eighty-Four" (1984), George Orwell descreveu um estado totalitário que monitorizava os seus cidadãos com novas tecnologias. Actualmente a China está a construir um sistema de crédito social digitalizado no qual o comportamento desejável (do ponto de vista do Partido Comunista Chinês) é recompensado e o não cumprimento é sancionado.

George Orwell não poderia ter adivinhado que hoje existem mais de 3 mil milhões de smartphones que os seus utilizadores usam voluntariamente em todo o lado a toda a hora. Ficaria surpreendido como as pessoas, de bom grado e sem qualquer crítica, fornecem os seus dados pessoais às corporações de "Big Data". Um dos países actuais que são pioneiros na utilização de novas tecnologias para submeter a sua população ao controlo total: A República Popular da China.

O decreto lei do governo para o sistema de crédito social da China, "Projecto de Planeamento para a Construção de um Sistema de Crédito Social a partir entre 2014-2020", foi aprovado pelo Conselho de Estado a 14 de Junho de 2014. 

De momento o sistema encontra-se na ultima fase de teste. Está a ser planeado como um sistema abrangente, com bases de dados estreitamente ligadas e com consequências automatizadas. È acompanhado por uma vigilância quase subíquida, cujos dados alimentam grande parte da pontuação. 

Para este fim, o comportamento social e político de indivíduos privados, empresas e outras organizações (tais como organizações não governamentais) é analisado para determinar a sua "reputação social". Atribuindo "pontos" por comportamento desejável ou retirando-os por comportamento negativo. e encontra-se em fase de teste.

Aqueles que atingem um nível de pontuação demasiado baixo devem contar com restrições na sua vida quotidiana, por exemplo no acesso aos serviços sociais ou na procura de emprego ou formação. O objectivo é educar a sociedade chinesa para ser mais "íntegra" no comportamento social e mais politicamente leal através de uma monitorização abrangente.

Desde 2017, vários sistemas já estão activos em várias cidades chinesas para fins de teste, por exemplo no projecto-piloto na cidade chinesa oriental de Rongcheng, que tem uma população de 1 milhão de habitantes. Os indivíduos começam com 1000 pontos. Os pontos são adicionados ou subtraídos dependendo do comportamento. "Comportamento pessoal e preferência" e "relações interpessoais" são utilizados para além da solvabilidade, capacidade de pagamento e registo criminal para pontuação. Actualmente estão em curso na China mais de 70 projectos-piloto, nos quais vários aspectos do sistema estão a ser testados. De momento funciona numa base voluntária, mas com intenções de tornar obrigatório no futuro.

As bases de dados governamentais e privadas a nível nacional e sub-nacional estão integradas. Os dados sobre solvabilidade financeira, registos criminais e outros comportamentos identificados como relevantes serão incorporados para cálculo. Além disso, pode-se assumir que os dados das empresas parceiras seleccionadas, tais como o Grupo Alibaba (chinês equivalente ao Amazonas), Tencent (chinês equivalente ao Facebook), Baidu (chinês equivalente ao Google) serão incluídos na avaliação. 

O gerente da Alibaba Min Wanli confirmou que a sua empresa está a criar o seu próprio sistema de classificação de crédito, que poderia servir de modelo para o sistema estatal: "Estamos convencidos de que o nosso sistema de classificação pode ser uma boa ajuda para o governo. O Estado está mesmo a considerar adoptar o nosso sistema de pontuação. Se o quiser fazer, teremos todo o prazer em apoiar".

Consequências de classificação negativa: As carreiras com organizações governamentais e relacionadas com o governo podem ser dificultadas. Possíveis consequências incluem restrições de viagem (sem mais bilhetes de comboio ou avião), estrangulamento da velocidade da Internet, exclusão de concursos públicos, e impostos mais elevados a pagar.

No início de 2019, foi revelado que em 2018, com base em dados do projecto Golden Shield, o governo chinês tinha-se recusado a permitir que indivíduos comprassem 17,5 milhões de bilhetes de avião e 5,5 milhões de bilhetes de comboio, porque os viajantes eram acusados de várias infracções menores, deixando-os com muito poucos pontos sociais.

Consequências de uma avaliação positiva: Os cidadãos chineses com uma classificação positiva obtêm um acesso mais rápido ao crédito ao consumo e têm preferência nos requisitos de saída, tais como solicitar um visto.

E naturalmente, que o sistema pode ser ajustado e podem ser acrescentadas outras consequências em qualquer altura.